Desde que meu caiaque chegou, há mais de um mês, só tenho tido infortúnios. Primeiro foi a chuva. Foram quinze dias ininterruptos de chuva, até tentei pescar, más as estradas estavam impraticáveis. Depois que parou de chover, aparentemente todos os tucunarés da região resolveram se reproduzir ao mesmo tempo, eles passaram a atacar as moscas com a boca fechada, nos deixando malucos, mesmo assim conseguimos algumas poucas capturas. Enfim as notícias eram promissoras na região de Barretos; os tucunarés de bom porte estavam comendo novamente. Saí na sexta-feira com a intenção de dormir em Barretos, pescar no sábado o dia todo com meu amigo José Augusto (que também comprou um caiaque) e voltar para casa à noite. Pois bem, cheguei às 7 da noite e um belo churrasco me aguardava, o final de semana já estava começando bem! Saímos com o raiar do sol no sábado, não havia nenhuma nuvem no céu, só a promessa de um belo dia de pesca. Finalmente iríamos estrear com estilo nossas “naves”. O destino era a fazenda Buracão, distante cerca de vinte quilômetros da cidade. No local existem vários lagos em meio a plantações de cana e alguns fragmentos florestais. O que aconteceu no sábado nos fez entender o porquê do nome Buracão. Após rodarmos alguns quilômetros por uma estrada de terra bem irregular nos deparamos com uma poça enorme de água no meio da estrada, fato que nos causou estranheza já que não chovia há mais de dez dias na região. Fiz o sinal da cruz e acelerei o carro, passamos a primeira. Depois desse, vieram mais cinco atoleiros que passei com bastante dificuldade. Qualquer pessoa sensata desistiria no segundo ou terceiro ponto, más não, o infeliz aqui estava tão louco para pegar uns peixes que insistiu na burrice. No sétimo ponto atolamos feio, nem por milagre sairíamos dali sozinhos. Para piorar a situação meu celular estava quase sem bateria e o Augusto esqueceu o dele em casa. A bateria só foi suficiente para pedir ajuda a um amigo que possui um carro com tração nas quatro rodas. O local é um verdadeiro labirinto e não passava ninguém alí fazia tempo, pois o solo estava repleto de pegadas de vários animais, como cateto, capivara e cachorro do mato. Nosso amigo rodou mais de 50km dentro da fazenda e não conseguiu nos achar, ficamos quatro horas aguardando socorro. Depois de tanto esperar o Augusto resolveu caminhar até um silo que tínhamos visto no caminho e lá conseguiu a ajuda de um senhor que nos tirou do atoleiro com sua caminhonete traçada. Resumindo, nem jogamos a linha na água e ainda por cima o carro saiu com algumas avarias. O que vocês fariam depois de uma furada dessas? Aposto que a maioria iria para casa. Nós não, somos insistentes (burros). Voltamos para a cidade, lavamos o carro e decidimos tentar a sorte em um outro lago. Assim que chegamos ao local e montamos a tralha, começou um vento que mais parecia o prenúncio de um furacão, estava quase impossível remar ou arremessar com aquele vento. Tentamos em vão lutar contra as forças da natureza, não pegamos um peixe sequer e na hora de ir embora, enquanto colocavámos os caiaques no carro, tomamos uma tremenda chuva, que fase! Más não têm problema, vamos seguir tentando, uma hora a maré vira...