quarta-feira, 18 de maio de 2011

Lagoa perdida

Nada como um dia após o outro, depois de várias pescarias frustradas, finalmente “tirei a barriga da miséria”.
Tudo começou com uma conversa com um amigo sobre uma lagoa aqui da região que segundo ele, era fartamente povoada por tucunarés azuis. Quando ouvi as palavras mágicas “Tucunaré azul” meus olhos brilharam e a ansiedade e curiosidade tomaram conta de mim, eu tinha que conhecer esse local urgentemente. O problema é que o lugar é de difícil acesso, em meio a um verdadeiro labirinto entre canaviais e minha última experiência neste tipo de ambiente não tinha sido nada agradável.
Recorri então ao amigo Alexandre que tem experiência em navegação, pois já participou de um Rally da Mitsubishi Cup.
Com as coordenadas geográficas no GPS, os caiaques em cima do carro e muita vontade de pescar, saímos às 6 da manhã rumo a mais uma aventura.
O trajeto foi relativamente tranqüilo, fizemos alguns ajustes e desvios na rota e uma hora depois chegamos ao local. Já na chegada nos surpreendemos com a beleza do lugar, a lagoa é toda rodeada por mata fechada e possui uma água cristalina e com muita vegetação aquática, sem contar a enorme quantidade de aves, como Saracura, Cará-Cará, Garças, entre outros. Até fotografei um Gavião Carijó que pousou em cima do carro.


Desembarcamos nossos caiaques e começamos as atividades. A enorme quantidade de algas impedia o uso de qualquer isca que não fosse de superfície. Utilizamos uma isca semelhante a um popper, chamada Gurgler. É uma isca bem fácil de atar e um tanto tosca, porém com uma efetividade incrível.

O dia começou um pouco frio e tivemos poucas ações e apenas três capturas na parte da manhã.



Paramos para um lanche por volta das 11:30hs meio desanimados, achei que seria mais uma furada.
Depois da parada a coisa mudou de figura, com a subida da temperatura os peixes começaram a atacar as iscas com enorme voracidade, era uma explosão atrás da outra, muitas delas não resultavam em captura, más só o ataque na superfície já fazia o coração acelerar.
Como a lagoa tem estruturas em toda sua extensão, arremessávamos do meio para as margens e das margens para o meio e em qualquer lugar tínhamos ação, más os maiores peixes foram capturados no meio da lagoa.
Pegamos e soltamos muitos tucunarés, todos azuis e de bom porte para região.






Foi uma grata surpresa encontrarmos uma lagoa tão bonita e com tantos peixes aqui na nossa região, espero que as outras pessoas que pescam ali tenham a mesma postura que nós tivemos e levem somente fotos e lembranças desse verdadeiro paraíso.

Abraço a todos.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Black Bass e as lagoas do Sul


Há alguns anos, quando morava em São Paulo comecei a ouvir sobre este peixe, que para mim era realmente misterioso. Pouco conhecia dos locais que eram mencionados em revistas de pesca da época, ainda mais difícil era pensar como pescá-lo com a técnica recomendada das minhocas artificiais. Como pescador de fly pensava de que forma seria possível capturar algum bass, com que moscas, que número de equipamento. A verdade era que como não tinha a real dimensão dos ambientes comentados nas matérias era tudo mais difícil. Cachoeira da fumaça, represa de Nazaré Paulista , Atibaia e Atibainha, enfim, grandes pesqueiros de Black Bass do interior paulista rondavam na minha cabeça, imaginando algum encontro com esta espécie. E o mais duro foi que apesar de ir algumas vezes nestes lugares o encontro não se deu nunca, por mais entusiasmo que colocava, comecei a pensar que o Black não era fácil por essas bandas. Mas as circunstâncias da vida começaram a mudar um pouco minha história do encontro com este peixe. Minha vinda para o Sul do país trouxe coisas novas, não somente no campo profissional, mas também na pesca. Uma delas foi a proximidade da Serra Geral, que divide Santa Catarina de Rio Grande do Sul. Nesse entorno fui encontrar a pesca tão sonhada de trutas selvagens, em rios de montanha, o que parecia ser somente possível em Patagônia ou outros destinos mais longes. E como por acaso, como uma opção a mais, e das melhores, apareceu o Black Bass. Em todo o entorno serrano, além dos rios de montanha, temos muitas lagoas e açudes, que para nossa felicidade, na maioria dos casos, está povoado com Black Bass. O encontro com a espécie foi fantástico, paixão a primeira vista.


Um peixe esportivo de características supremas, por causa da sua agressividade e também, por momentos, sua seletividade. Por isso, para ter algum sucesso nesta empreitada foi importante ganhar experiência com os ambientes e os hábitos do Black.
Devo admitir que quando vim para o Sul já pescava exclusivamente com fly, isto fez que realmente observasse de que maneira era possível pescar o Bass nesta modalidade enquanto a todo o equipamento, desde varas, carretilhas, linhas e moscas. Uma coisa fundamental é entender o ambiente em que estes peixes foram colocados e que isso significa para pescar com fly. A grande diferença com as represas paulistas ou paranaenses é que as lagoas e açudes ou lagos do Sul são bem menores, mais rasos, mas muito ricos em alimentação e fauna bentônica (insetos, crustáceos). Esta característica permite que com o equipamento de fly consigamos atingir as estruturas e as profundidades onde o Black bass fica mais frequentemente. Nas grandes represas o trabalho de achar o peixe é muito mais complicado, às vezes, grandes profundidades onde os cardumes se concentram são impossíveis de alcançar com eficácia com as linhas de fly, mesmo as de afundamento rápido. Por isso, devemos pensar que estes ambientes sulinos são os mais apropriados para pescar com a nossa modalidade.


Quando comecei a pesquisar de como pescar o bass nestas latitudes constatei que a bibliografia e os dados sobre a pesca com fly para este peixe, como sempre acontece, eram todos de fora, importados. De todas maneiras, pensando em começar com alguma coisa, os primeiros que vieram a tona foram os poppers. É claro que idealizar a pesca na superfície é instigante, quase obsessivo, mas também apareceu o problema do clima e as épocas diferenciadas do ano. Nas primeiras pescarias me deparei com isto. Somente com poppers a coisa não funciona. Qualquer mudança climática interfere na condição de pesca, mas nestes ambientes pequenos e com esta espécie parece que tudo se acentua. Aí tive que recorrer aos streamers. E deu resultado. Ainda mais, as linhas que afundam, sinking tips ou intermediate solucionaram em parte meus problemas.
O clima está intimamente relacionado com a época, e como disse anteriormente o peixe sente bastante tudo isto. O bass geralmente desova na primavera e isto também faz alguma diferença no seu comportamento, um pouco mais austero. Depois disto nos meses de verão a festa começa. O calor os ativa pra valer e a pesca é na superfície quase a maior parte do tempo. Mesmo com calor, se não vemos ação da superfície, podemos entrar com os streamers e a mesma linha floating. Isto mostra um pouco a seletividade deste peixe. Não come a não ser a um palmo abaixo da superfície e outras formas diferentes aos do popper. Quando esfria o clima, o bass mergulha e se torna mais pacato, menos agressivo, mas não para de comer. Aí mudam as estratégias, pode ser necessário ter que colocar as linhas de afundamento. Esperar a linha descer e recolher lentamente os streamers. As pegadas são muito suaves, quase imperceptíveis. Uma pesca diferente, mas não menos interessante.
Outro item fundamental para pesquisar é a alimentação deste peixe. E fundamentalmente neste tipo de lagoas as situações mudam. Diria que o bass tem disponíveis nestes âmbitos os insetos que fazem parte da comunidade bentônica do lago nas formas de larvas, ninfas ou adultos. Peixes forrageiros (lambaris, tilápias) e os próprios filhotes do bass. Também rãs e girinos. E em alguns lugares, crustáceos (caranguejos de água doce) e sangue-sugas. Com este panorama vasto vem o momento de escolher as moscas, nas suas formas e cores. Se começamos pelos poppers, diria que funcionam muito bem os médios e pequenos, com anzol #6, #4, no máximo 1/0.



A minha eleição de cores recai nos pretos, amarelos ou verde flúor. Todos com cauda de bucktail ou saddle. Alguns com rubber legs. Sobre streamers diria que para cobrir as opções de alimentos os bucktails em amarelo ou verde limão, para imitar os filhotes de bass, os brancos para imitar lambaris, e os carijós para tilápias ou carás.



Funcionam bem as woolly buggers para imitar carangueijos ou sangue-sugas. As variantes destas moscas com rubber legs são também muito efetivas. Sobre os insetos disponíveis para o bass, creio que os mais importantes são os odonatos (libélulas ou lavadeiras). As ninfas destas espécies em tamanhos grandes funcionam bem, mas os adultos fazem a diferença numa das melhores pescas que se pode realizar nestes ambientes.

Os ataques são explosivos e assemelham-se muito à pesca da truta em lagos. As cores das moscas vão desde o azul, verde claro até vermelho. Também é possível usar imitações de grandes caddis e mayflies nos entardeceres.
Para finalizar podemos falar sobre varas, carretilhas e linhas. As minhas escolhas partem de varas #5 para uma pesca com moscas mais leves (streamer e pequenos poppers, imitações de insetos) e vai até uma vara #7, para poppers mais pesados ou streamers um pouco mais volumosos. As ações das varas acho que é uma escolha pessoal, mas temos que contar às vezes com o vento reinante no lugar ou com ter que alcançar um pouco mais de distância nos arremessos. Estes fatores condicionam as eleições de equipamento. As carretilhas podem ser simples, com uma carga mínima de backing, para cada peso de linha. Ela raramente vai entrar em cena, mas é interessante que esteja pronta para qualquer susto! As linhas de preferência são as Floating, com torpedo curto, modelos bass bug ou salt water para carregar a vara rapidamente e arremessar moscas volumosas. Também é legal contar com alguma linha intermediate ou sinking tip de velocidade de afundamento média para represas mais rasas. Se tivermos lugares mais fundos podemos usar uma linha mais rápida no seu afundamento. Os leaders podem ser de um metro e meio com tippet que varia segundo as moscas usadas. Podemos usar desde 0,30 mm ate um 1x (0,26mm) como para não correr perigo.

Este peixe apresenta um atrativo fantástico para a pesca com mosca aqui no Sul. A sua distribuição geográfica é bem importante nos estados de Rio grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Desde seu poder de adaptação às variações climáticas, a sua voracidade e seu grande valor esportivo, nos desafia a entender seu comportamento e seus hábitos para pescá-lo com esta modalidade tão apaixonante como é o fly. Vale a pena!
Enviado por Eduardo Hector Ferraro.