Há muitos anos alimentava o desejo de pescar Blackbass na Serra Gaúcha. Lembro-me das matérias escritas pelo Alvaro Moawad na revista troféu pesca, no ínicio dos anos 90, onde ele narrava com maestria suas pescarias nos Campos de Cima da Serra a procura de bass e traíras, sempre na companhia de seu labrador. Nessa mesma época fiz algumas incursões a represas próximas a São Paulo, más devido a falta de infraestrutura e conhecimento dos pontos de pesca não obtive êxito na tentativa de capturar esse esquivo peixe.
O tempo passou e deixei esse desejo engavetado, até que meu amigo Hector de Florianópolis me enviou uma matéria sobre pesca de Bass no sul e assim reacendeu a vontade de fazer essa viagem.
Entrei em contato com o amigo Gustavo que reside em Canela e é profundo conhecedor dos locais de pesca em toda região da Serra e agendei alguns dias em janeiro para embarcar nessa aventura.
Depois de uma verdadeira “via crucis”, avião até São Paulo, espera de 3 horas no aeroporto, conexão para Porto Alegre e finalmente 120km dirigindo um carro alugado, cheguei a Canela num Domingo às 17:00hs. Deixei minha mala no hotel, peguei minha tralha e dirigi mais 7km até a fazenda Passo Alegre, onde o Gustavo me aguardava para traçarmos os planos para os próximos dias, e é claro, esticar a linha, apesar do cansaço. Só o passeio a esta fazenda já vale a pena. Localizada em meio a campos de altitude e araucárias centenárias, suas principais atividades são a criação de bovinos, ovinos, bubalinos e agora também a pesca esportiva.
Como estávamos no horário de verão pescamos até as 20:00hs. As ações foram bem escassas, pois ventava demais, más mesmo assim consegui fisgar meu primeiro bass gaúcho.
Como o Gustavo tinha alguns compromissos profissionais, pesquei os dois primeiros dias sozinho, o que não foi de forma alguma desagradável. Saía bem cedo munido de uma caixa térmica recheada de iguarias do sul; queijo colonial, copa caseira, pão italiano, e passava o dia todo pescando.
Nestes dois dias capturei mais de 50 exemplares, porém nenhum grande, más peixes na faixa de 800 a 900g eram relativamente comuns.
Não vou me ater à parte técnica dessa pescaria, pois isso meu amigo Hector já fez em outra postagem aqui no blog, porém quero deixar algumas impressões sobre a espécie.
O que pude perceber foi o seguinte, o Blackbass é muito sensível às variações climáticas, sempre que começava a ventar as ações paravam imediatamente, mesmo usando iscas de fundo. Quando o vento cessava e a sensação térmica de calor aumentava, os peixes voltavam a atacar as iscas avidamente, e assim era durante o dia todo.
Outra coisa que pude constatar é em relação aos ataques na superfície, sempre ouvi dizer que os bass não se movem mais do que alguns centímetros para atacar a isca, não foi isso que testemunhei. Quando o lago estava calmo os peixes riscavam a água cerca de dois metros para desferir o ataque, a batida às vezes é sutil, más em alguns momentos eu até me assustava com a violência dos ataques, fazendo lembrar o tucunaré. Em relação à briga não diria que se trata de um peixe muito forte, más oferece resistência quando fisgado.
No terceiro e último dia de pesca o Gustavo reuniu alguns amigos e fomos a uma fazenda na cidade de São Francisco de Paula, local famoso por suas represas repletas de Blackbass. Infelizmente um vento frio assolou a Serra durante todo o dia e a pescaria não foi muito boa, más em compensação fizemos um churrasco ao estilo Gaúcho que foi fantástico.
Para quem vai ao Sul esperando uma pescaria de trófeus, provavelmente vai se decepcionar, más se você quer pescar em meio a paisagens incríveis, desfrutar de boa gastronomia e ainda contar com a conhecida hospitalidade gaúcha, esse é o lugar.
Abraço a todos.